segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Co-responsável


O dia amanheceu com inúmeras análises, opiniões, fotos, anúncios e a pergunta com muitas respostas: "de quem é a culpa?"; quem afinal foi responsável pela morte de tanta gente em uma boate em Santa Maria?
Assim como nos perguntamos em tantas situações em casa, no trabalho, no trânsito, na academia. De quem é a culpa? Quem fez isso?
Como se a resposta fosse o suficiente. Como se revertesse, evitasse, prevenisse, consolasse.
Foram os seguranças que não queriam deixar os jovens sair? O dono da boate sem alvará, janelas, saídas de emergência? A banda que soltou os fogos? O prefeito, o fiscal, o diabo?

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Se o problema é culpa...

A culpa foi minha. Eu assumo a minha parte. Minhas pequenas e criminosas corrupções, as vezes em que votei sem pesquisar, a nota fiscal que não pedi, os momentos em que não exigi meus direitos para não parecer chata, a bronca que não dei, o direito que não usufrui, a indignação que não virou voz, o arrependimento por ter falado, as vezes em que não me respeitei como pessoa, como cidadã. E outras coisas que não tenho coragem de publicar.
Estive em tantos lugares como aquele ciente de que algo poderia acontecer (locais muito fechados, com saídas de emergência com correntes e cadeados...) e nunca procurei uma autoridade, nunca permiti que isso passasse de um breve pensamento a ser engolido com o próximo gole de cerveja.
Brasília é longe. O ego é grande. O senso comum não tem voz para quase nada que preste. Curtimos tanta bobagem e não lemos tanta coisa importante. Quase não leio instruções. Não conheço saídas de emergência, não sei manusear um extintor e, mesmo que soubesse, não sei se pensaria nisso.

O que eu fiz quando soube da tragédia? Não liguei a TV assombrada com a certeza de que um dia meu filho vai entrar em um lugar daquele...sem janelas, sem saída, sem consciência.

Pedi a Deus pelas famílias que lá estão chorando seus mortos (tão, tão jovens), pedi pelo meu filho, agradeci por ter passado ilesa dessa fase e vim aqui assumir minha co-responsabilidade e colocar um pouco de poder nas minhas mãos refletindo que é melhor ser chata e exigir meus direitos, bater boca, descer do salto (com ou sem tanta elegância), lutar, pesquisar, perder dinheiro, perder tempo, ficar descabelada e doida, fazer a minha parte e salvar uma vida que seja.

Uma vida que seja.

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