quarta-feira, 20 de março de 2013

De-cisão


Por muito tempo eu viajei todos os dias a Rodovia dos Bandeirantes. Depois me rendi, fui para a cidade grande, morei perto do trabalho um tempão. Mudei de novo para o interior, fiquei amiga da Dutra.

São Paulo é uma ótima cidade. Lá as pessoas podem crescer de uma forma rápida, ganhar muito dinheiro, aprender a ter profissionalismo e, no caso de quem vem do interior, trabalhar em São Paulo alimenta o ego. Em São Paulo eu fiz muitos amigos, eu aprendi a ser gente grande, vesti salto alto, voei de avião a trabalho pela primeira vez e ganhei minha primeira pasta de consultora. É eletrizante e viciante estar em São Paulo.

Além disso, tomei muita chuva, perdi alguns chinelos nas enchentes de lá, passei no meio de tiroteio (!!!) e, em um dia após ficar 2 horas presa dentro do metrô, resolvi sair. Abri mão. Quis saber como era ver o dia nascer e o entardecer do meu quintal.

Fiz escolhas. Fui aprendendo dia após dia que não é possível ter tudo. Mas é possível ter aquilo que seu coração mais quer.

Houve um tempo em que as minhas escolhas me levaram a uma rotina de caos. Demorou um pouco até eu achar, no meio do caos, onde estava a minha escolha. Foi como encontrar um diamante no meio da bagunça "ah...aqui está a razão de tudo. Vale à pena? Sim, vale." E o melhor foi quando tomei consciência de que a bagunça ia passar. E passou.

O que quero dizer com tudo isso é que cada um pode fazer sua decisão. Os sinais de quando está na hora de mudar, de decidir, são sutis mas presentes. Quando se olha muito pela janela do escritório, preferindo ser qualquer pessoa a estar passando por lá a ser você o observador, talvez seja um sinal. Quando seu coração está batendo fora de você, pulsando por algo maior, talvez seja a hora de prestar atenção nele.

Independente de qual seja o seu sinal, fique atento: você está onde gostaria de estar? Você faz o que gostaria? Onde mora seu coração neste momento?

Pode ser que não possa sair correndo agora. Mas pode dar encaminhamentos e planejar mudar.

Por favor, esteja acordado. Consciente. Se você, sua vida, carreira, rotina não estão de acordo com o que você gostaria, saiba que você é o único responsável e capaz de mudar alguma coisa. Não faça corpo mole para tentar ser mandado embora, ainda que inconscientemente não provoque as pessoas ao seu redor para justificar ações arbitrárias da sua parte. Não diga que só fez tal coisa porque fulano ou beltrano provocaram.

Seja responsável pela sua vida, peça ajuda, busque saídas, analise e faça. Pare de dizer que é gordo porque seu metabolismo é lento; que está na empresa que te faz infeliz porque o pacote de benefícios é uma loucura. Não se venda por vale-refeição, pelo amor de deus.

Quando decidimos sempre temos uma perda. Mas, ao focar no ganho fica muito mais fácil superar a perda e ir ao encontro de si próprio. Fica mais fácil dormir menos, trabalhar mais e buscar o que se deseja. Como eu li em um livro, o que queremos de verdade, o nosso sonho não está em nenhuma revista ou lugar mirabolante. Está aí dentro de você, esperando você parar e olhar. Consegue?


terça-feira, 5 de março de 2013

Ser...

Tem me chamado a atenção - muito! - a necessidade das pessoas mostrarem que são felizes, que estão bem, que têm sucesso, que são o profissional mais bem sucedido do universo, que são as mães e pais mais felizes do mundo, que os filhos são o máximo, que amam mais e são mais amadas que todos. Me parece sim que em quase tudo tem algum grau de comparação superlativo.

Não tem graça eu ser só feliz. Tenho que ser a pessoa MAIS feliz do MUNDO. Meu carro, na estrada, tem que ser o maior, o mais veloz e mais caro (agora ele tem que ser pérola também, que é a cara da riqueza). A bolsa, ah, a bolsa...ela tem que ser a mais cara, da marca mais fashion mas, se perguntarem, jamais se falará que foram pagos os olhos da cara. Conseguiu suuuper em conta sei lá onde de sei lá quem que foi para algum lugar que o outro não pode ir.

Neste mundo de agora não tem espaço para a tristeza, para o ócio, para o bode. Não é eficiente ficar triste. Gente triste dá azar. Ah, desculpe! Não se pode falar azar porque azar atrai azar. Só pode ser "má sorte". E só de ler esse parágrafo, você provavelmente vai ficar coberto disso "aí" que escrevi.

Somos muito felizes, mas não podemos ser completos porque não podemos ser tristes. Não podemos estar tristes. Não podemos fracassar, dar um passo em falso, a menos que esse passo já tenha sido dado há muito tempo e agora você está contando o quanto superou sua dificuldade e está ótimo.

Por isso, talvez, que eu adore as personagens como a Funérea. Essas coisinhas mal humoradas e politicamente incorretas, inoportunas e muito, muito sinceras. Esses que dizem exatamente o que muita gente pensa mas acha que é errado pensar ou sentir (falar nem pensar). É errado ser, a menos que você seja um personagem recém chegado ou saído da ilha de caras. A menos que você seja um slogan.

Tudo bem que todos gostamos mais de ver o que é bonito, mas está todo mundo tão bem que eu desconfio. Eu estou bem, mas não estou TÃO bem e muitas vezes na semana, nem bem estou. E tenho quase certeza de que se uma pessoa precisa anunciar onde quer que seja que está TÃO BEM ou isso não é verdade ou a insegurança é imensa e a solidão de si próprio é a única presença.

Ter coragem de ser quem se é. Andar seu próprio caminho sem comparar-se com quem está ao lado. Me parece um pouco utópico pois quando seu carro e sua bolsa são maravilhosos, caros e raros, isso causa inveja (inveja mesmo porque esse papo de inveja branca é para boi dormir). Quando você diz que sua vida é perfeita, seu namorado, marido, esposa, filho, mãe ou sei lá o que são os melhores do mundo, isso gera incômodo porque quem lê não pensa em você e sim onde errou que não alcançou tanta perfeição.

O ponto é: quando você é você mesmo, corajoso para isso, independente do que seja, pode ser que seja polêmico, contraditório, ou até "normal". Mas nesse caso você torna-se um exemplo de verdade porque é alguém possível. Ser a si próprio é possível e, sério, dispensa anúncio.