terça-feira, 5 de março de 2013

Ser...

Tem me chamado a atenção - muito! - a necessidade das pessoas mostrarem que são felizes, que estão bem, que têm sucesso, que são o profissional mais bem sucedido do universo, que são as mães e pais mais felizes do mundo, que os filhos são o máximo, que amam mais e são mais amadas que todos. Me parece sim que em quase tudo tem algum grau de comparação superlativo.

Não tem graça eu ser só feliz. Tenho que ser a pessoa MAIS feliz do MUNDO. Meu carro, na estrada, tem que ser o maior, o mais veloz e mais caro (agora ele tem que ser pérola também, que é a cara da riqueza). A bolsa, ah, a bolsa...ela tem que ser a mais cara, da marca mais fashion mas, se perguntarem, jamais se falará que foram pagos os olhos da cara. Conseguiu suuuper em conta sei lá onde de sei lá quem que foi para algum lugar que o outro não pode ir.

Neste mundo de agora não tem espaço para a tristeza, para o ócio, para o bode. Não é eficiente ficar triste. Gente triste dá azar. Ah, desculpe! Não se pode falar azar porque azar atrai azar. Só pode ser "má sorte". E só de ler esse parágrafo, você provavelmente vai ficar coberto disso "aí" que escrevi.

Somos muito felizes, mas não podemos ser completos porque não podemos ser tristes. Não podemos estar tristes. Não podemos fracassar, dar um passo em falso, a menos que esse passo já tenha sido dado há muito tempo e agora você está contando o quanto superou sua dificuldade e está ótimo.

Por isso, talvez, que eu adore as personagens como a Funérea. Essas coisinhas mal humoradas e politicamente incorretas, inoportunas e muito, muito sinceras. Esses que dizem exatamente o que muita gente pensa mas acha que é errado pensar ou sentir (falar nem pensar). É errado ser, a menos que você seja um personagem recém chegado ou saído da ilha de caras. A menos que você seja um slogan.

Tudo bem que todos gostamos mais de ver o que é bonito, mas está todo mundo tão bem que eu desconfio. Eu estou bem, mas não estou TÃO bem e muitas vezes na semana, nem bem estou. E tenho quase certeza de que se uma pessoa precisa anunciar onde quer que seja que está TÃO BEM ou isso não é verdade ou a insegurança é imensa e a solidão de si próprio é a única presença.

Ter coragem de ser quem se é. Andar seu próprio caminho sem comparar-se com quem está ao lado. Me parece um pouco utópico pois quando seu carro e sua bolsa são maravilhosos, caros e raros, isso causa inveja (inveja mesmo porque esse papo de inveja branca é para boi dormir). Quando você diz que sua vida é perfeita, seu namorado, marido, esposa, filho, mãe ou sei lá o que são os melhores do mundo, isso gera incômodo porque quem lê não pensa em você e sim onde errou que não alcançou tanta perfeição.

O ponto é: quando você é você mesmo, corajoso para isso, independente do que seja, pode ser que seja polêmico, contraditório, ou até "normal". Mas nesse caso você torna-se um exemplo de verdade porque é alguém possível. Ser a si próprio é possível e, sério, dispensa anúncio.

24 comentários:

  1. Priscila, adorei seu texto...
    Desde da 1ª serie na escola somos obrigados a competir pela melhor nota da classe, e ai v ai....

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  2. E, depois da nota, seguimos competindo por coisas que realmente não têm nenhum valor, não é Givas? Abraços para vc!

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  3. Oi Priscila, muito bom o texto!
    Bjos
    Helen

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  4. Oi Pri, belo texto! Além de tudo, quem tem a coragem de tentar apenas ser como é, normalmente é duramente criticado pelos srs e sras perfeição... Saudades!

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    1. Você tem toda razão, Van. É realmente necessário ter coragem.
      Muitas saudades mesmo! beijos!

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    2. Oi! Pri, adorei o texto.Beijos Lú

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  5. Oi Priscila, parabéns pelo texto. De fato nossas ações diante das diferentes situações da vida falam mais alto do que os anúncios.
    Isabel Mazone

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    1. Obrigada Isabel pelo comentário e presença aqui :) Fico feliz que tenha gostado.

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  6. Pri, gostei muito do texto, bastante realista. As pessoas estão atropelando tudo e todos para atingir objetivos banais e só percebem o quanto erram quando estão fragilizadas ou doentes!

    abç grande

    Camila Sartori

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    1. Oi Camila! Adorei o comentário! Gosto de observar como uma ideia desperta diferentes vertentes em cada um que lê o texto.
      Um abração e até breve (espero),
      Pri.

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  7. Não sei se sou suspeita por ser sua sogra e por gostar tanto de você... mas suspeita ou não, sempre curto muito o que você escreve. Parabéns menina! Continue nos "alimentando" a alma com seus textos.

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    1. Obrigada Re...É muito bom receber o seu carinho e acompanhamento. :-)

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    2. Adorei ❣️❣️❣️❣️

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  8. veja como é um tema que nunca deixa de ser atual. Fernando Pessoa em "Poema em linha reta" já questionara: "(...) onde é que há gente nesse mundo?". Adorei a leitura. Parabéns. Orgulho profundo de vc. bjs Tuca

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    1. Pois é...Onde há??? Que bom que gostou Tucão...! Um beijo grandão!

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  9. Pri, usarei em aula rsrsrs. Obrigada! Abraço! Saudades...
    Marina

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  10. Pri

    Achei o texto o MÁXIMO. Continue assim, aprimorando sua capacidade de observação e de crítica perspicaz.
    Um beijão do
    Paipai

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    1. Obrigada Pai! Inclusive por me ensinarem a pensar. :-)
      beijos, com amor,
      Pri.

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  11. Priscila
    Nao conhecia seu blog, gostei demais do texto. Você colocou em palavras muito precisas. um sentimento que muitas vezes não conseguimos definir. Parabéns!

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  12. Neusa, muito obrigada pelo comentário. Isso muito me incentiva!
    Um grande abraço!

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  13. Pri, ADORO! SEMPRE! Seus textos sempre me traz perspicácia...engrandece, nos faz pensar e querer ser mais SAGAZ, na rotina diária da vida! Obrigada...amei! Sou sua fã você sabe...Bjos Line

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  14. Sensacional! Aliás, adoro seus textos!
    Desde que o Arthur me indicou seu blog, acompanho toda semana, e fico ansiosa por novos textos!
    Parabéns pelo seu talento!
    Abs., Fernanda

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  15. Obrigada Fernanda!
    Essa semana sai mais um. Avisarei o Arthur :-)

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